segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Instabilidade.

De longe eu podia avistar a garota. Sentada no banco do parque, ela carregava uma carga de imensa tristeza sobre os ombros, uma tristeza que talvez eu fosse a única capaz de enxergar. Não sei ao certo o porquê, mas ela soltava um leve sorriso quando via as crianças brincando. Um sorriso tímido, forçando simpatia.

Os dedos das mãos entrelaçados por cima do joelhos, o casaco florido, a saia lisa. A alma vazia. Sozinha. Talvez estivesse ali na tentaviva de espairecer, livrar-se de suas emoções negativas. Respirar. E não conseguia. Era visível o seu fracasso na hora de lidar consigo mesma. Suas emoções eram completamente indecifráveis para ela. Ela se perdia no mar de interrogações que sua mente tornara-se com o tempo. Eu percebia facilmente tudo isso.

Não queria parecer cansada como o seu coração, que apesar de novo, vivia de súplicas, desejos. Querer. Não mais que bem querer. Vivia eletrizantemente numa situação pecaminosa. A luz do sol não permitia que abrisse direito os olhos, deixando assim a cor azul céu deles guardada debaixo da sombra de suas pálpebras. Perfeitamente normal por fora, destruída por dentro.

E assim permanecia. Não havia nada que podia fazer. Talvez continuasse assim até o dia do seu último suspiro. Mas não queria pensar no futuro. Pensava somente no hoje, em como estava cansada de tudo. Em como queria voltar a viver.

Talvez eu até entenda porque conseguia compreende-la tão facilmente. Afinal, eu falava da garota ou de mim?

- Karla Reis.

Um comentário:

  1. No words!
    Karlinha, você classificaria esse seu texto como crônica poética ou conto psicológico?
    Eu tenho uma opinião, mas queria saber a sua.

    beijo grande ;)

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