segunda-feira, 20 de junho de 2011

A falta do amor.

Eu não conseguia mais me enxergar no reflexo. O espelho me mostrava além de tudo que meus olhos já haviam visto. Eu havia me apaixonado, deixado o tempo passar sem perceber em quem eu ia me transformando. Eu estava sozinha, havia me isolado de tudo; não tinha mais amigos e meus pais... Ah, estes só me davam onde dormir e o quê comer. Constantemente minhas insônias me perturbavam e meu rosto angelical havia sumido. Olheiras dominavam minha face agora e a coloração dos meus lábios misturavam-se com o resto; Pálido. Meus olhos avermelhados enxergavam bem pouco.

Eu forçava minha vista para olhar ao redor do meu quarto. Em cima da mesa onde eu costumava escrever, estavam as cartas que ele escrevia para mim, apenas lembrando-me todo dia o quando ele me amava. E como elas me faziam bem! Eu já havia decorado todas as palavras que ele tinha escrito. Ainda deslizando meu olhar pelo quarto, eu pude avistar a pelúcia toda empoeirada que ele me deu de presente numa tardezinha cinzenta qualquer, que era quando eu costumava me guardar nos teus braços. Aliás, eu era a bailarina: frágil, bonita, delicada; guardada por ele numa caixinha de música. Uma espécie de cápsula protetora, da qual eu não queria me livrar jamais.

E assim, sem mais nem menos, a vida tirou-o de mim. Inconformada, parada na frente do espelho, ainda ficava esperando o telefonema que ele prometeu que me faria no fim da tarde. E a carta que eu daria à ele no dia do seu aniversário? Quem leria? As palavras que eu pretendia dizer navegavam no mar de interrogações que minha mente tinha virado. Eu não tinha razões para nada; havia perdido o sentido de tudo.

Meu mundo havia desmoronado. Os dias passavam e minhas forças para manter-me em pé haviam chegado ao fim. O silêncio passara a ser meu único companheiro e meus braços, traçados em volta dos joelhos, eram meu único cobertor. Continuava em frente ao espelho, tentando me reencontrar. E o principal: eu não chorava. Afinal, lágrima nenhuma o traria de volta.


- Karla Reis. (Visitem meu blog? http://blanketofwords.blogspot.com/ *-*)

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